Setembro amarelo: não há saúde mental sem alimentação adequada

“Ninguém pensa de barriga vazia. A alimentação é algo básico, é o que dá dignidade, é o que dá um lugar social para as famílias”, afirma a psicóloga Carla Camargo.

A saúde mental é um dos principais temas do mês de setembro, devido à campanha “Setembro Amarelo”, que ocorre desde 2014 no Brasil, questão que está diretamente associada às condições de vida e, portanto, à alimentação adequada.

Segundo a psicóloga social e clínica Carla Camargo, as questões de alteração emocional e psicológica que os adultos têm podem ter relação com a perda de autoestima, irritabilidade, ansiedade e sintomas depressivos. 

“Ninguém pensa de barriga vazia. A alimentação é algo básico, é o que dá dignidade, é o que dá um lugar social para as famílias”, afirma a psicóloga. 

Ela ressalta a importância da procura de profissionais de saúde, pois é natural não estar sempre bem e ter sofrimento psíquico. Ela conta que outros tipos de doença, como o câncer, são mais palpáveis, físicos, e fazem com que as pessoas procurem médicos de forma imediata, o que é diferente da saúde mental. 

Fome no Brasil

Apesar de todo o potencial de produção de alimentos, em 2022, 70,3 milhões de pessoas estavam em estado de insegurança alimentar moderada no país, que é quando possuem dificuldade para se alimentar. Além disso, 21,1 milhões de pessoas no país estavam em 2022 em insegurança alimentar grave, caracterizado por estado de fome, segundo dados do relatório “O Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo (SOFI)”, publicado em julho deste ano pela Organização das Nações Unidas (ONU) para a Alimentação e a Agricultura (FAO).

Wellington Dias, ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, afirma que o agravamento da fome no Brasil é reflexo do desmonte das políticas públicas sociais que vivemos nos últimos anos. 

“O país sofreu muito nos últimos três anos pela falta de cuidado e atenção com os mais pobres. Se tornou comum ver pessoas passando fome, na fila por ossos e catando comida no lixo para se alimentar”, afirma o ministro.

A psicóloga Carla Camargo afirma que programas que tenham como bandeiras o acesso à comida e a uma renda direcionada a alimentação, como o BAS, que tentam resgatar esse direito à alimentação básica, à dignidade dessa população mais vulnerável e não tem acesso ao alimento, são fundamentais.

Desnutrição na infância

No caso das crianças, quando não há acesso à alimentação adequada para o desenvolvimento, pode haver defasagem cognitiva e na aprendizagem. “A criança precisa de alimentos de qualidade, não apenas o básico, e quando esse direito não é garantido a defasagem gerada pode resultar em um atraso social, pois essa pessoa não irá alcançar emocionalmente e cognitivamente outras pessoas que tiveram esse acesso”, explica a psicóloga Carla.

Ela afirma que essa falta também pode atrasar as crianças ao entrarem no mercado de trabalho, pois ela terá dificuldade de aprender e, portanto, terá menos acesso a emprego e renda. “Por isso dizemos que é um ciclo de repetição, famílias à margem da sociedade que não conseguem ascender socialmente”.

Setembro Amarelo

Desde 2014 a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), promove a campanha no mês de setembro no Brasil, combinada ao Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, no dia 10 do mesmo mês. O lema da campanha deste ano é “Se precisar, peça ajuda!”.

A campanha “Setembro Amarelo” tem como objetivo conscientizar a sociedade sobre os sinais transmitidos por quem está em sofrimento e pode vir a tirar a própria vida, trazendo esse tema à tona, pois segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 90% dos suicídios poderiam ser evitados. 

Para participar da campanha, confira a Cartilha Suicídio Informando para Prevenir, onde você encontra as Diretrizes para a Divulgação e Participação da Campanha Setembro Amarelo, materiais online para download, e todo o material para a imprensa.

Programas como o BAS, bolsa família e de merenda escolar, por exemplo, podem ajudar não apenas a garantir o Direito Humano de Alimentação Adequada, como pode ajudar a prevenir não apenas doenças físicas, como mentais, e salvar vidas.

Peça ajuda

Caso conheça alguém que esteja passando por situações como as relatadas nesta reportagem, o Centro de Apoio Psicossocial (CAPS) do SUS atende em diversos bairros de Sorocaba. Confira aqui o contato e a localização do mais próximo de você.

Além disso, o Centro de Valorização da Vida atende pelo número 188 e realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, e-mail e chat 24 horas todos os dias.

 

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